31/05/2014

Indicação de Álbum - Cassiano



Cassiano - "Apresentamos Nosso Cassiano"

Gravadora: Odeon
Ano: 1973

Não era lenda não: Tim Maia morria de vergonha de cantar alguma música na frente de Cassiano. Seja por sua forma magistral de criar falsetes ou por buscar variações que melhor combinavam com os inúmeros gêneros que explorava (soul music, R&B, psicodelia, progressivo, vários outros), Cassiano tornou-se um dos maiores expoentes da black music brasileira, com habilidades que poderiam tê-lo colocado ao lado de um Isaac Hayes ou Otis Redding ou George Clinton ou Curtis Mayfield.

Nascido no município de Campina Grande (Paraíba), Cassiano chegou a tocar violão no grupo Bossa Trio e, depois, entrou para o grupo vocal Os Diagonais, onde compôs as canções “Não Dá Pra Entender” e “Clarimunda”, do disco Cada Um Na Sua.

Seu reconhecimento veio quando lançou o primeiro disco de Tim Maia, em 1970, como guitarrista e compositor de duas de suas maiores músicas de sucesso: “Primavera” e “Eu Amo Você”.

No ano seguinte, ele gravou seu primeiro disco solo, Imagem e Som, trazendo a sua versão de “Primavera”, além das parcerias “Ela Mandou Esperar” e “Tenho Dito”, que assinou junto com Tim Maia. Foi um debut poderoso, até hoje considerado um dos registros mais influentes da black music nacional.

Mas seu lado experimental veio com o lançamento do segundo trabalho, este Apresentamos Nosso Cassiano. Ele rompeu barreiras ao colocar sua força vocal em melodias mais lentas e até psicodélicas, cheias de belas orquestrações e composições mais complexas – como “A Casa de Pedra”, levada por órgãos e violões dispersos numa voz que, por mais que se encaixasse em trilha de novela, ficaria ofuscada por qualquer outra música de levada mais pop.

Aliás, de pop Apresentamos Nosso Cassiano não tem muita coisa não. “Chuva de Cristal” até fala de patrão e poderia ser identificada por qualquer trabalhador que tem um superior a relatar. Mas, quando fala de ‘ler um livro’ e de uma mágica chuva que ‘vem de alma limpa’, percebemos que o músico prefere divagar na abstração das coisas do que direcionar sua composição para algo de protesto – que florescia na época na música de Elis Regina, Geraldo Vandré, Edu Lobo.

Um dos maiores legados deste segundo disco de Cassiano é mostrá-lo o quão diferente ele era de qualquer outro compositor de black music nacional. Pegue uma música como “Calçada”: a introdução soul-psicodélica graças ao Rhodes inicia formidavelmente uma composição onde ele diz tomar um ‘caldo de cana’ de forma tão nostálgica que você se sente em um arco-íris sonoro repleto de belezas.

Seguindo na correnteza contrária de um Jorge Ben, que ovacionava a multiplicidade da mulher brasileira, ou mesmo Tim Maia, autointitulado corno e cafajeste, Cassiano canta em “Cinzas” que ama a sua mulher de forma bem festiva, levado em um swing funk com vocais em eco que poderiam muito bem figurar em alguma viagem progressiva de um Pink Floyd.

Depois deste excelente registro, Cassiano ainda lançou o ótimo Cuban Soul, em 1976, que teve os sucessos “A Lua e Eu” e “Coleção” (de Paulo Zdanowski) como trilhas de novelas da Rede Globo. Só que em 1978, infelizmente, o músico teve que fazer uma cirurgia e retirar um pulmão por problemas de saúde, o que o deixou ausente por um bom tempo. Em 1991, o produtor Líber Gadelha o incentivou a gravar Cedo ou Tarde, que não agradou muito o próprio Cassiano.

Ele ainda está vivão e vivendo no Rio de Janeiro, colaborando com os músicos da Banda Black Rio. Mas bem que poderia estar mais ativo em uma carreira solo: a black music brasileira sempre dependeu de Cassiano, por mais que muitos não saibam disso.

Fonte: http://namiradogroove.com.br/

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